A expansão do Mercado Livre e o impacto no varejo brasileiro - Delage

A expansão do Mercado Livre e o impacto no varejo brasileiro

Mercado Livre
*Imagem meramente ilustrativa

No último mês, o Mercado Livre anunciou que vai inaugurar cinco novos centros de distribuição no Brasil, duplicando a sua capacidade logística. O objetivo da empresa é ampliar as entregas feitas em até dois dias. Serão três novos armazéns no estado de São Paulo, um em Santa Catarina e um em Minas Gerais.

 

Os CDs irão adicionar 340 mil m² à malha logística gerenciada pelo Mercado Envios, braço logístico do Mercado Livre. Com as novas instalações, a companhia ire irá duplicar a sua capacidade de armazenamento e processamento de pedidos, buscando acelerar a suas entregas em todo o território nacional.

 

Durante a coletiva de anúncio dos novos centros de distribuição, Leandro Bassoi, vice-presidente da Mercado Envios explicou que, atualmente, a Mercado Livre já entrega em até dois dias em 1.800 cidades, as quais concentram 80% da população brasileira. Em muitos casos, a empresa consegue reduzir ainda mais esse prazo, entregando em 24h. “A ideia é melhorar esses números”, ressaltou.

 

A cidade de Cajamar-SP vai contar com dois novos CDs, sendo um de 75mil m² e outro de 122 mil m². O primeiro já entrou em operação no dia 9/11. Em Guarulhos-SP será instalado um galpão de 50 mil m², visando reduzir a distância para o aeroporto internacional, onde o Mercado Livre já tem operações de malha aérea. No estado de Minas Gerais, o armazém da empresa ficará em Extrema –MG, com uma área de 75 mil m². E o quinto CD será localizado em Governador Celso Ramos – SC, com 32 mil m² e capacidade de expansão para até 71 mil m².

 

Quatros dos cinco armazéns serão destinados às operações de Fulfillment, onde o Mercado Livre gerencia o estoque dos vendedores, desde o armazenamento até a entrega ao cliente. Já o CD de Guarulhos vai utilizar a modalidade de cross docking, recebendo as encomendas dos vendedores e entregando-as aos clientes.

 

Os novos centros de distribuição vão se somar aos três Fulfillments que a empresa já possui, localizados em Cajamar-SP, Louveira-SP e Lauro de Freitas-BA, aos 16 centros de cross docking e aos vários hubs de “última milha”. Além do investimento nos novos CDs, o Mercado Livre pretende ampliar também a frota de aviões, carretas e vans de transporte.

 

Também durante a coletiva, Leandro destacou o quanto a agilidade é uma premissa fundamental para oferecer um alto nível de serviço aos compradores. “Queremos seguir o caminho de ter entregas cada vez mais rápidas. Acompanhamos todos os índices de satisfação, e as entregas mais rápidas têm performance de satisfação maior junto aos clientes”, destacou.

 

Na grande São Paulo, a empresa já entrega em same day delivery e tem conquistado cada vez mais a aprovação do consumidor pela agilidade oferecida. Com os novos investimentos em logística  previstos para o próximo ano, os quais somam mais de R$ 4 bilhões, a empresa espera aprimorar a experiência de compra também fora dos grandes centros, sendo referência em entregas ágeis.

Como o varejo brasileiro será impactado?

 

É inegável que os avanços dos grandes players para oferecer uma experiência de compra aprimorada aos seus clientes impactam no varejo como um todo. Essas companhias já perceberam que, em um cenário de grande crescimento das vendas on-line, priorizar o investimento em logística é fundamental para alcançar o sucesso. A Amazon tem sido pioneira em várias estratégias, e o Mercado Livre vem conquistando cada vez mais espaço à medida que busca aperfeiçoar os seus serviços de venda e entrega de pedidos.

 

Conforme destaca Felipe Trigueiro, CEO da FTLog e especialista em Logística e Supply Chain 4.0, com a presença mais forte do Mercado Livre e Amazon, a pressão no varejo de marcas tradicionais brasileiras por serviços melhores e cumprimento de prazos nunca foi tão grande. Do mesmo modo, tem se tornado imperativo o investimento em estratégias e infraestruturas logísticas e tecnológicas para dar suporte às operações, de modo a garantir a interação em tempo real com os clientes.

 

Adilson Soares, Diretor de Operações Logísticas da Rap Log, complementa ressaltando que os varejistas de menor porte terão de se adaptar à nova realidade, a fim de diminuir o abismo que está sendo formado com a entrada desses gigantes no mercado brasileiro. “Grande parte dos varejistas com atuação no e-commerce ainda optam pela terceirização da área de transportes através de parceiros tradicionais que oferecem longos prazos de entrega. Contudo, esse modelo está deixando de ser sustentável e se tornando pouco competitivo. Hoje é de extrema importância a criação de uma estrutura com variados modais de entregas, modelos ágeis como o ‘same day delivery’ ou no máximo D+1 nas capitais”, afirma.

 


Ainda na opinião do especialista que atua na logística há mais de 20 anos, os varejistas também precisam pensar em como alocar e gerenciar os seus estoques de maneira estratégica. Ele explica que uma prática comum nos dias de hoje e que já está sendo revista é a utilização pelos varejistas de seus estoques alocados em lojas físicas para atender os seus respectivos e-commerce.

 

“Esse modelo causa alguns impactos, como por exemplo, ruptura e competição de estoque entre os canais de venda. O cenário atual está fazendo e fará cada vez mais com que os varejistas de diversos portes adotem estratégias para aumentar a velocidade na operação e ter maior controle de seus estoques.”, diz.

 

Adilson destaca que alguns dos clientes da Rap Log já entenderam esse movimento e já estão tendo sucesso através da construção de dark stores em pontos estratégicos das cidades. “A dark store permite a segregação dos estoques para atendimento dos canais digitais, maior produtividade na composição dos pedidos e, por estarem localizadas em pontos estratégicos, estão mais próximas de seus clientes, proporcionando o aumento da velocidade e qualidade das entregas”, afirma o especialista.

 

Felipe acrescenta que quando a empresa não tem estoques avançados, o esforço logístico é muito grande, “sem contar que no Brasil ainda temos um alto esforço logístico tributário para assegurar uma melhor malha logística, garantindo preço e prazos competitivos”, destaca. “Nesse movimento de correr atrás das melhores formas para atender o mercado consumidor, algumas estratégias ganham força, como o Click and Collect, Ship From Store, dark store, show room, dropshipping e a logística reversa. Com essas estratégias bem implantadas o varejo se tornará realmente competitivo e o mercado consumidor só tem a ganhar”, defende.

 

O fato é que não dá mais para estacionar no tempo e insistir em práticas tradicionais que dificultam a entrega ágil. É preciso atualizar as estratégias e aproveitar os benefícios oferecidos pelas tecnologias para oferecer ao cliente uma experiência de compra inigualável. A pressão dos grandes players certamente continuará, pois eles trabalham focados no customer centric. Por isso, é hora de sair da zona de conforto e focar no futuro, qualificando cada vez mais a logística para superar os desafios e seguir no caminho do crescimento.

 

Referências: Infomoney, TecMundo e Seu Dinheiro.

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